Na reformulação proposta pela atual gestão do governo, novas opções de ensino técnico serão oferecidas no dobro de escolas que em 2023, mas só para quem está no primeiro ano.
Começa nesta quarta-feira (16), o prazo para estudantes do primeiro e segundo anos do ensino médio estadual escolherem suas opções de itinerários formativos para 2024. O prazo vai até 15 de setembro.
Em duas transmissões ao vivo para os alunos nesta terça (15), a Secretaria Estadual da Educação de São Paulo (Seduc-SP) apresentou alguns detalhes sobre a reformulação anunciada no fim de julho e respondeu a diversas perguntas enviadas por estudantes, mas deixou muitas dúvidas sem resposta.
Ainda não foi informado qual será o critério usado na seleção para as vagas, quantas horas da carga horária serão destinadas aos itinerários formativos e, dessa parte do currículo que deveria ser optativa, quantas horas eles precisarão dedicar a disciplinas obrigatórias criadas pelo secretário estadual da Educação, Renato Feder, e batizadas de “Itinerário Formativo Global”, porque valerão para todos os alunos.
Após ser questionada pelo SP2, a Seduc informou, no fim da tarde desta terça, que, “para o ensino técnico, a prioridade será para estudantes em continuidade nas escolas que receberem os cursos técnicos” e, “caso haja excesso de estudantes interessados dentro da escola ou haja vagas remanescentes para estudantes de fora da escola, a prioridade será dada a quem tiver maior pontuação em um índice que levará em conta três critérios, com peso igual para cada um: i) média das notas em português e matemática da Prova Paulista dos dois primeiros bimestres de 2023 ii) média da frequência escolar do primeiro semestre iii) menor distância entre a residência e a escola estadual de escolha (quanto menor a distância, maior a pontuação)”.
Por que o ensino médio mudou de novo?
O Novo Ensino Médio, apresentado em 2016 pelo governo de Michel Temer por medida provisória, dividiu a carga horária em duas partes: uma obrigatória, chamada Formação Geral Básica, com 60% da carga horária total dos três anos dessa etapa, e outra chamada de Itinerários Formativos, ou seja, uma formação específica que cada estudante poderia escolher, a partir de opções oferecidas pelas escolas.
E cada estado poderia definir como oferecer essas disciplinas.
São Paulo foi uma das primeiras redes estaduais a aprovar um currículo de itinerários formativos e implementar o projeto a partir de 2021, ampliando a carga horária da parte optativa ao longo da etapa e oferecendo 11 itinerários formativos mesclando áreas do conhecimento, além de um itinerário de ensino técnico com 12 opções de cursos diferentes.
Em 2023, os primeiros estudantes do Novo Ensino Médio chegaram ao último ano com a maior parte da grade horária com disciplinas que eles consideravam superficiais e distantes do conteúdo que teriam que estudar para o vestibular. Os protestos contra a nova política levaram o Ministério da Educação a lançar uma consulta pública entre abril e o início de julho.
Feder, assim que assumiu a pasta, já havia anunciado que estudaria medidas para reduzir a quantidade de itinerários, anunciou no fim de julho que, a partir de 2024, os estudantes terão apenas duas opções de itinerários de áreas do conhecimento, e 10 opções de cursos no itinerário de ensino técnico.
‘Novo’ Novo Ensino Médio em SP
Reformulado após menos de três anos em vigor, o “novo” Novo Ensino Médio de São Paulo tem elementos diferentes da proposta que o Ministério da Educação quer transformar em lei.
São três itinerários no total: um de linguagens e ciências humanas, um de matemática e ciências da natureza, e um de ensino técnico. Veja abaixo os componentes de cada itinerário:
Linguagens e ciências humanas:
- Liderança
- Mídias digitais
- Geopolítica
- Oratória
- Filosofia moderna
Exatas:
- Robótica
- Programação
- Química aplicada
- Biotecnologia
- Empreendedorismo
Ensino técnico terá opções limitadas
O itinerário de ensino técnico tem várias opções de cursos diferentes, como agronegócio, desenvolvimento de sistemas, educação básica, enfermagem, farmácia, hotelaria e eventos, logística e vendas.
No entanto, apenas quem vai para o segundo ano do ensino médio em 2024 poderá optar por um desses cursos.
Para os alunos que vão para o terceiro ano e não fazem curso técnico, só haverá como opção os dois itinerários de áreas do conhecimento.
Procurada pela TV Globo, a Seduc informou que vai garantir a continuidade do itinerário técnico para os estudantes que atualmente fazem curso técnico no segundo ano. “Atualmente, há 32,7 mil estudantes cursando ensino técnico como parte do ensino médio, no 2ª e 3ª série. Os cerca de 20 mil estudantes que estão na 2ª série do ensino médio nessa modalidade seguirão fazendo o curso técnico como seu itinerário formativo no próximo ano”, disse a secretaria, em nota.
O ensino técnico será oferecido em cerca de 1.200 escolas, principalmente em municípios de médio e grande porte. É o dobro das 684 escolas que oferecem pelo menos um curso técnico em 2023, segundo dados obtidos pela produção da TV Globo via Lei de Acesso à Informação.
O objetivo, segundo as informações apresentadas, é chegar a 100 mil matrículas de itinerário formativo no ensino técnico no ano que vem.
Além disso, a Seduc anunciou que terá dois projetos-piloto, um de curso técnico em ciências de dados, a ser oferecido em 20 escolas em 2024, e outro com 60 turmas oferecido em parceria com o Senai. Nesse caso, os estudantes cursarão as aulas do curso técnico na sede do Senai, e as demais disciplinas em suas escolas.
Itinerário “global”
Mas parte da carga horária que seria de escolha dos estudantes vai ter disciplinas obrigatórias: o chamado “projeto de vida” terá espaço na grade curricular nos três anos do ensino médio, assim como “educação financeira”. No primeiro ano, todos os alunos terão aula de “tecnologia-programação”. No segundo e terceiro anos, aulas obrigatórias de “redação e leitura”. E, no terceiro ano, além de “projeto de vida”, “educação financeira”, “redação e leitura” e as disciplinas do itinerário formativo, os estudantes também terão aulas de “aceleração para vestibular”.
Já no texto elaborado pelo governo federal, o total de itinerários é o mesmo: três, incluindo um voltado ao ensino técnico. Mas os outros dois itinerários mantiveram a presença de linguagens e matemática: um combinado com ciências humanas e o outro, com ciência da natureza.
Pelo organograma apresentado nesta terça, estudantes da rede estadual paulista que optarem pelo itinerário de linguagens e ciências humanas, por exemplo, só terão aula de matemática dentro do currículo obrigatório, chamado de Formação Geral Básica, ou se ela for abordada em “aceleração para vestibulares”, no último ano. Quem optar pelo itinerário de exatas ficará sem aulas de linguagens dentro da parte optativa no primeiro ano.
Fonte: G1